Tópicos Abordados V
Sempre que queremos mudar ou criar um hábito enfrentaremos desafios. Precisamos lidar com uma série de impactos conflitantes em outras atividades da nossa vida. Nossos relacionamentos, rotinas, desejos e até outros hábitos.
Seremos a pessoa que bate ponto no bar ou na academia? Aqueles que leem todo dia uns 30min ou que só prometem?
Para dificultar a missão, temos as redes sociais, a mídia e todas as pessoas que nos relacionamos, prontas para dizer quem somos ou deveríamos ser.
Já não sabemos claro o que queremos e ainda tentamos agradar todo mundo. O Jay Shetty, um inglês e ex-monge, diz que hoje somos o que pensamos que os outros pensam que somos.
Portanto, tentar mudar um hábito sem saber o que é prioridade para você, não é tarefa fácil. Você precisar saber quem você é.
Quero, mas nem tanto
Antigamente, quando queria mudar algo, a história era muito parecida. Vejamos minha relação com a musculação, por exemplo.
Teve uma fase da vida que eu começava a frequentar uma academia porque queria ganhar músculos e perder massa gorda.
Ficar mais “sarado” era uma vontade. Só que também queria comer mal, ficar acordado até tarde, ir para farra todo final de semana, faltar a academia de vez em quando. Por que não?
O compromisso com a malhação não se sustentava ou durava muito tempo. Precisava me alimentar melhor e dormir melhor, além de ser consistente nos exercícios.
Isso não combinava com os happy hours, a preguiça de sair de casa quando chovia, a cervejinha regular em qualquer hora, a falta de hábito de planejar o que iria comer e por aí vai.
Assim, meus planos nunca duravam muito tempo. Eu dizia que queria, mas queria outras coisas muito mais. Quem nunca?
A verdade é que trabalhar meu corpo nunca foi uma prioridade. Como parecia que era para todo mundo, eu fingia tentar também.
Só que parei para pensar e cheguei à conclusão de que não queria um corpo malhado. E entender que não queria, trouxe outro problema.
Isso não é para mim
Em outra fase da minha vida, acreditava que não fazia parte da minha identidade ir para a academia. Não tinha nada a ver comigo buscar um corpo “sarado”. Pensava que era o cara magrinho mesmo.
Talvez memória de um preconceito que carrego desde a infância. Achar que pessoas inteligentes não trabalham o corpo.
Mesmo que minha namorada na época sugerisse que eu fosse malhar, pois ela dizia que evitaria lesões em outras atividades, não adiantava.
Eu argumentava que não tinha motivo para ir e os contra argumentos dela não me convenciam. Não é que fosse teimosia pura, nem que ela estivesse errada.
Os motivos que ela queria que eu começasse a me exercitar não se conectavam com minha forma de pensar.
Eu não era sedentário. Sempre gostei de atividades físicas, como ir de bicicleta para o trabalho (15km cada trecho, por um tempo). Tendia a manter ao menos uma atividade física em minha rotina, mas fazia porque sentia prazer.
Foi aí que comecei a perceber que estar ativo fazia parte da minha identidade. Achava que seria arriscado para minha saúde ficar parado. Isso me ajudou muito a melhorar minha disciplina.
Mas a verdade é que bastava estar me movendo, no meu critério. Não me preocupava muito com os resultados daquilo. Por outro lado, se não estivesse ativo, me sentia incomodado.
Eu sempre arrumava tempo para fazer alguma atividade: já malhei, corri, pedalei, remei e algumas coisas mais. Só que quando inventava de querer mudar meu corpo de forma mais acentuada, não conseguia de jeito nenhum manter a disciplina necessária.
Quando a informação virou inspiração
Foi então que li sobre as ultramaratonas, onde pessoas corriam mais de 200km, sem parar um minuto. Achava que isso era impossível.
Aprofundando mais no tema, encontro o brasileiro Marcio Villar que correu 827km em sete dias, dormindo apenas 18h no processo, batendo um recorde mundial.
Encontro também a história do James Lawrence, que fez 50 provas de triatlo na categoria Ironman (3.8 km de natação / 180 km de ciclismo / 42 km de corrida). Foram cinquenta dias seguidos em todos os 50 estados dos EUA, também em 2015.
Não consigo parar. Conheço Amelia Boone, David Goggins, Alex Honnold e várias outras figuras inacreditáveis – repare na foto do Alex abaixo e tente não sentir calafrios.
Confesso que primeiro pensei o que talvez você tenha pensado. Estas pessoas são malucas! Para que fazer isso? Bando de doido procurando morrer.
No entanto, conhecer estas histórias mudou alguma coisa na minha cabeça. Hoje sinto vergonha de lembrar como já julguei essas pessoas.
Não tem a ver com o corpo
Imagine o que a mente de pessoas como as que citei não é capaz de fazer. Quais obstáculos eles não são superam sem piscar? Após a vergonha, percebi que queria muito uma força de vontade cada dia mais parecida com a deles. Queria muito mesmo!
O primeiro passo para definir minha identidade foi o fato de que não quero malhar para ter um corpo bacana, apenas.
Quero ter a mente de quem é capaz de conseguir ter um corpo saudável e que possa contar com ele nas situações mais difíceis. As vezes indo além da dor.
Além do blog, é na sessão princípios que dou minhas opiniões e conto minhas experiências. Acabo dizendo o que acho que deve ou não ser feito, e é aqui que você deve ter mais cuidado ao ler. Ir além do desconforto parece ser necessário em quase todo esporte, mas deve ser feito com responsabilidade.
Quero ser capaz de fazer o que a maioria das pessoas acredita ser loucura. E não vou engolir as desculpas dizendo que isto e aquilo é para quem nasceu com um dom.
Ficar mentindo para mim mesmo não pode mais fazer parte da minha história. Todas os relatos de superação que encontrei não falavam de talento e sim de muito esforço.
Tenho a vontade de ser aquele que na hora do desconforto, quando meu consciente disser para parar, seguir em frente.
Desejo mostrar que não estamos nem perto do fim e que vou precisar da minha mente para continuar. Assumi que um item fundamental da minha identidade é a busca do desconforto e a consistência.
Por quê?
Por um milhão de motivos, mas em meio a uma dificuldade, você gostaria de ser um problema ou uma referência para sua família e amigos? Decidi querer ser o primeiro.
Quero ser aquele que parou de se lamentar e ser parte do problema e age para mudar.
Quando acordo indisposto e não quero ir para a academia ainda escuro, é nestas horas que reforço esta identidade.
Começo a rir de mim mesmo e sinto um certo orgulho ao sair de casa nestes momentos. Penso neste indivíduo sem rosto, do começo do post, que não tem identidade e que voltaria para a cama.
Preciso desses momentos para relembrar esta identidade. Não é fácil, pois poucos perdem a oportunidade de dizer para você quem você é ou deveria ser. E nossa mente é bastante sugestionável.
Curiosamente, buscar o desconforto torna minha vida muito mais fácil. Os desconfortos inesperados se tornaram tão pequenos em relação aos desconfortos planejados.
Faltou energia e vou ter de tomar banho frio no inverno? Já faço todo dia e nem se compara com a imersão no gelo de alguns minutos.
Quando defini melhor quem queria ser, comecei a pensar em minhas prioridades. Não aceito automaticamente um convite aleatório para sair sábado à noite.
Avalio se aceitar vai me deixar mais perto de quem quero ser ou mais longe. As companhias são importantes ou só estou fugindo de ficar sozinho ou medo de dizer não? Quantas mentiras já contei para justificar um não?
E você, quem é?
O que você está fazendo ou deixando de fazer que não combina com a identidade que definiu? O que está fazendo que vai contra esta identidade? Quer mesmo o que diz querer ou mente para si mesmo?
Suas prioridades precisam ser definidas com base em seus próprios valores. Se não for algo pessoal, não existirá compromisso.
Pare de aceitar o que seus amigos, família, religião, mídia, estão te empurrando como identidade. Será uma jornada de exploração pessoal e que agradeço demais passar todos os dias.
Se não está satisfeito com seu comportamento e quer mudar alguma coisa, não existe outro caminho.
Não se esconda atrás da história de que está esperando para se descobrir. Invente quem você será. Você precisa definir quem é. Agora!